por: Cláudia Bergamasco
Mesmo na área cultural, parecemos idolatrar os nossos piores traços. O personagem Macunaíma, "o herói sem nenhum caráter", criado pelo escritor Mário de Andrade (1893-1945) há quase oitenta anos, é tido, ainda hoje, como uma espécie de síntese da alma verde-amarela. O retrato irresponsável que fazemos de nós mesmos tornou-se algo tão arraigado na cultura popular que até mesmo os alienígenas passaram a nos ver da mesma forma.
O general Charles de Gaulle (1890-1970), ex-presidente da França, a quem se atribui a afirmação de que "o Brasil não é um país sério", é um exemplo mais que perfeito. Como no caso de Macunaíma, ainda há quem encontre na frase de De Gaulle uma justificativa para explicar todos os tipos de desvios morais dos brasileiros.
"Sempre há uma desculpa para agir de maneira antiética", diz o empresário Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, entidade que tem como missão promover e disseminar práticas empresariais socialmente responsáveis. "Passamos muito tempo trabalhando na base do jeitinho", diz a economista Maria Cecilia Coutinho de Arruda, coordenadora do Centro de Estudos de Ética nas Organizações da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Ela analisa esse assunto em um dos livros que escreveu, o "Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica" (Editora Atlas, 32 reais, 204 págs.), lançado no Brasil no ano passado.
Apesar de terem um fundo de verdade, nem o anti-herói Macunaíma, nem a máxima cunhada pelo general francês espelham de forma precisa a realidade brasileira. E, no caso específico do mundo dos negócios, parece uma grande injustiça jogar no mesmo saco quem se vale da famosa "lei de Gérson", segundo a qual o importante é levar vantagem em tudo, e a legião de empresários que procuram se pautar pela ética nos negócios. Contra tudo e contra todos, ainda existe no país, felizmente, um grupo de empreendedores que dá valor a uma mercadoria que não tem preço - a integridade. E, ao contrário do que se diz, não é pouca gente, não. Se 40% da riqueza nacional é fruto da chamada economia informal, de acordo com uma pesquisa realizada pela McKinsey, uma das principais empresas de consultoria do mundo, pode-se deduzir, sem risco de errar, que os outros 60% provêm de negócios que operam dentro dos limites da legalidade. Será que eles estão perdendo dinheiro? Provavelmente, não. Se fosse o caso, a economia informal teria um peso ainda maior do que já tem no país.
Celso CruzDiretor de compras e qualidade do McDonald's
"Se entrarmos em campo para jogar futebol, temos que jogar conforme as regras do jogo. É a mesma coisa com o pagamento de impostos. Se você é empresário, tem que seguir as regras do jogo "
Talvez a turma de sempre diga que operar dentro da lei é uma atitude quixotesca numa republiqueta de bananas como a nossa. Mas, para quem não abre mão da ética na vida e nos negócios, não há nada mais importante do que encostar a cabeça no travesseiro todos os dias e dormir em paz consigo mesmo. E poder olhar de frente para a sua família, sem o receio de, a qualquer momento, aparecer nas páginas policiais dos jornais. "Só dá para vencer assim", afirma Shiba, da China in Box. "Se alguém disser que não dá para vencer nos negócios com integridade estará dizendo que todo o sistema capitalista é antiético", diz Grajew, do Ethos.
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